quarta-feira, fevereiro 20, 2008


Eclipse


O reflexo da lua na água turva

Aos olhos do poeta obscurece,

Pois quando à água suja a lua desce

Perante a lua nova ele se curva.

Perante a lua, novo, ele pranteia

E sabe que ele mesmo é quem ofusca

O brilho do ornamento que ele busca,

E a luz do pensamento em lua cheia.

Coberta pelo breu a lua míngua,

E assim sucumbe o brilho do poeta:

A sombra de si mesmo ele projeta

Na lua, antes que ela se extinga.

Só dentro do poeta ela é crescente:

Seu brilho à água turva sobrepuja,

Fazendo com que seja apenas suja

Nos olhos do poeta reticente...

Do reflexo da lua se apropria,

E o eclipse total o desconcerta...

É turva a água ou o olho do poeta?

É escura a lua ou sua vã filosofia?


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