quarta-feira, fevereiro 20, 2008


Eclipse


O reflexo da lua na água turva

Aos olhos do poeta obscurece,

Pois quando à água suja a lua desce

Perante a lua nova ele se curva.

Perante a lua, novo, ele pranteia

E sabe que ele mesmo é quem ofusca

O brilho do ornamento que ele busca,

E a luz do pensamento em lua cheia.

Coberta pelo breu a lua míngua,

E assim sucumbe o brilho do poeta:

A sombra de si mesmo ele projeta

Na lua, antes que ela se extinga.

Só dentro do poeta ela é crescente:

Seu brilho à água turva sobrepuja,

Fazendo com que seja apenas suja

Nos olhos do poeta reticente...

Do reflexo da lua se apropria,

E o eclipse total o desconcerta...

É turva a água ou o olho do poeta?

É escura a lua ou sua vã filosofia?


Metade

Oswaldo Montenegro

segunda-feira, fevereiro 18, 2008


Penso em nós


Penso em nós quando a saudade sufoca

Quando a boca saliva

E nossos corpos suplicam...

Penso em nós

Quando as palavras se tornam necessárias

Quando ouvir sua voz já acalma o coração

Penso em nós...

Rolando...Beijando...

Se completando...

Penso a cada instante...

Penso todo minuto...

E quando não penso...

É quando meus olhos estão nos seus...

Frente a frente...

E nessa hora só quero

É viver o momento...

E se entregar em seus braços...


(Rosane lima)




O talvez



O talvez é algo que ultimamente não suporto

Talvez um dia

Talvez Talvez...

Quero as certezas

Ao invés de algo mascarado

Quero sentir o que a vida me deu

Não o talvez Chega de talvez

Quero o AGora

Hoje quero dizer que valeu a pena

Quero dizer que quebrei a cara

Quero que o momento seja único

Que seja como sonhamos

Não quero só palavras

E sentimentos escritos

Juras bem mais

Quero sentir na pele

O calor dos nossos corpos

Quero gozar junto com você

Nossos corpos realizando

O que nossos coraçoes

Quero me jogar sem ter medo

Poder dizer que tentei !

Que lutei

Não quero a inercia de um TALVEZ

Talvez...Talvez Não !

Sou mais que isso

Sou mulher

Sei das conseqûencias

E não me encovardo...

Enfrento o que vier pela frente

Com você

Espero o tempo que for...

Mas quero sentir Agora

Nossas ALMAS

Se amando

Se completando...

Realizando o seu desejo !


(Rosane Lima)

Mar de Prata


Mar de prata

Reflete a vida

A luz de fato

Revela a ferida.

Surge ao longe

Cruz branca da paz

Flores violeta ao que tange

Na manhã se faz.

Silencio noturno

Sombras que se afastam

Vem distante e soturno

Leve sonho me basta.


Ricardo Knupp

sábado, fevereiro 16, 2008

HINO A PÃ
Vibra do cio subtil da luz,
Meu homem e afã
Vem turbulento da noite a flux
De Pã! Iô Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Do mar de além
Vem da Sicília e da Arcádia vem!
Vem como Baco, com fauno e fera
E ninfa e sátiro à tua beira,
Num asno lácteo, do mar sem fim,
A mim, a mim!
Vem com Apolo, nupcial na brisa
(Pegureira e pitonisa),
Vem com Artêmis, leve e estranha,
E a coxa branca, Deus lindo, banha
Ao luar do bosque, em marmóreo monte,
Manhã malhada da àmbrea fonte!
Mergulha o roxo da prece ardente
No ádito rubro, no laço quente,
A alma que aterra em olhos de azul
O ver errar teu capricho exul
No bosque enredo, nos nás que espalma
A árvore viva que é espírito e alma
E corpo e mente - do mar sem fim
(Iô Pã! Iô Pã!),
Diabo ou deus, vem a mim, a mim!
Meu homem e afã!
Vem com trombeta estridente e fina
Pela colina!
Vem com tambor a rufar à beira
Da primavera!
Com frautas e avenas vem sem conto!
Não estou eu pronto?
Eu, que espero e me estorço e luto
Com ar sem ramos onde não nutro
Meu corpo, lasso do abraço em vão,
Áspide aguda, forte leão -
Vem, está fazia
Minha carne, fria
Do cio sozinho da demonia.
À espada corta o que ata e dói,
Ó Tudo-Cria, Tudo-Destrói!
Dá-me o sinal do Olho Aberto,
E da coxa áspera o toque erecto,
Ó Pã! Iô Pã!
Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã Pã! Pã.,
Sou homem e afã:
Faze o teu querer sem vontade vã,
Deus grande! Meu Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Despertei na dobra
Do aperto da cobra.
A águia rasga com garra e fauce;
Os deuses vão-se;
As feras vêm. Iô Pã! A matado,
Vou no corno levado
Do Unicornado.
Sou Pã! Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!
Sou teu, teu homem e teu afã,
Cabra das tuas, ouro, deus, clara
Carne em teu osso, flor na tua vara.
Com patas de aço os rochedos roço
De solstício severo a equinócio.
E raivo, e rasgo, e roussando fremo,
Sempiterno, mundo sem termo,
Homem, homúnculo, ménade, afã,
Na força de Pã.
Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!

Mestre Therion (tradução Fernando Pessoa)

(O "Hino a Pã" é uma tradução do Hymn to Pan, do prefácio do livro "Magick in Theory and Practice", de Aleister Crowley. Esta tradução foi publicada em outubro de 1931 em "Presença", de Pessoa.
(*) Mestre Therion é um dos nomes "mágicos" de Aleister Crowley.)